Não se sabe ao certo de quem partiu a idéia de realizar uma mostra de artes modernas em São Paulo. Contudo, há o registro de que, já em 1920, Oswald de Andrade prometera para 1922 (na do centenário da independência) uma ação dos artistas novos “que fizesse valer o centenário!”.
O certo é que, em 1921, o grupo modernista que realizaria a Semana estava completamente organizado e amadurecido para o evento. No mesmo ano, chegou da Europa Graça Aranha, escritor consagrado e membro da Academia Brasileira de letras. Entusiasmado com as ideias artísticas européias, com as quais tivera contato, Graça Aranha apoiou o grupo paulista. Era o impulso que faltava.
A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, com a participação de artistas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Durante toda a semana o saguão do teatro esteve aberto a público. Nele havia uma exposição de artes plásticas com obras de Anita Mafaltti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Di Cavalcanti, Haberg, Brecheret, Ferrignac e Antonio Moya.
Nas noites dos dias 13, 15 e 17 realizaram-se saraus com apresentação de conferências, leituras de poemas, dança e música..
Se a Semana é realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas européias nem sempre bem assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significa também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. Ela cumpre assim a função de qualquer vanguarda: exterminar o passado e limpar o terreno.
É possível, por outro lado, que a Semana não tenha se convertido no fato mais importante da cultura brasileira, como queriam muitos de seus integrantes. Há dentro dela, e no período que a sucede imediatamente (1922-1930), certa destrutividade gratuita, certo cabotinismo*, certa ironia superficial e enorme confusão no plano das idéias..
Mário de Andrade dirá mais tarde que faltou aos modernistas de 22 um maior empenho social, uma maior impregnação "com a angústia do tempo". Com efeito, os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação estética acima de outras preocupações importantes. As questões da arte são sempre remetidas para a esfera técnica e para os problemas da linguagem e da expressão. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado. De qualquer maneira, a rebelião modernista destrói o imobilismo cultural - que entravava as criações mais revolucionárias e complexas - e instaura o império da experimentação, algo de indispensável para a fundação de uma arte verdadeiramente nacional.
Caberia ainda ao próprio Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:
- A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.
- A atualização intelectual com as vanguardas européias.
- O direito permanente de pesquisa e criação estética.
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